Paulo Werneck
No ponto, uma mulher, trabalhadora, doméstica, esperava o ônibus. Do carro particular saltam cinco jovens, todos maiores de idade, universitários, classe média alta. Um deles estudante de Direito. Os jovens atacam a mulher, a cobrem de porrada - desculpem o vernáculo menos refinado, mas nada havia de elegante na situação -, sob o olhar de um sexto que permaneceu dentro do veículo, lhe roubam a bolsa e enfim se afastam.
Preso, um dos vagabundos justifica sua ação por ter pensado que a trabalhadora seria uma vagabunda, por prostituta, errando completamente na avaliação: as vendedoras de amor não fazem ponto em pontos de ônibus; a dita vida fácil é a maior dureza; a prostituição é uma atividade lícita; e, pelo menos o estudante de Direito deveria saber, o ordenamento jurídico proíbe o exercício das próprias razões.
Enquanto os meios de comunicação em geral estão em campanha pelo endurecimento das leis e a redução da maioridade penal, tendo como alvo preferencial as crianças miseráveis das favelas, sem infância nem futuro, os jovens da alta fazem das suas, queimando índios ou batendo em mulheres.
O pai de um deles ainda tentou justificar o filho, o que me lembrou que o professor Albus Dumbledore, ao criticar a negligência e crueldade com que Vernon e Petunia Dursdley trataram seu sobrinho órfão, Harry Potter, ressalvou que pior sorte teve o filho deles, tratado sempre com permissividade (J. K. Rowling, Harry Potter and the Half-Blood Prince, London: Bloomsbury, 2005, p. 57).