quinta-feira, 10 de maio de 2007

Papa-móvel, povo imóvel

Paulo Werneck

A srta. J. trabalha em São Paulo, Capital, próximo à sua residência, mas, mesmo antes do Sumo Pontífice chegar à metrópole, gastou mais 45 minutos para chegar ao trabalho, devido aos inúmeros bloqueios das vias públicas, tempo esse próximo ao da viajem de Sampa para o Rio, onde veio resolver um problema e aproveitou para almoçar comigo.

O que ocorrera quando da vinda de Bush filho, ocorreu com o Papa, ai! Será que quando o nosso presidente vai aos steitis, fecham a Quinta Avenida?

Se é para o povo ver o visitante, que ele conceda uma audiência pública no Estádio Municipal, de modo a que todos que o desejarem possam observá-lo demoradamente, ou até mesmo ouvir algumas palavras, mas para transitar, que o faça de helicóptero, sem atrapalhar toda a população laboriosa, ou não.<

Será que São Paulo pode parar?

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Aborto e Hipocrisia

Paulo Werneck

Sábado lembrei-me de Marcelo Alemão e de sua crítica à comida em que o sabor fica em segundo plano, na coluna Refogado (Carta Capital, 02/05/07). Concordo com ele.

Após uma manhã inteira de reunião de trabalho, saí para almoçar com uma colega e amiga, Sra. A. Sugeri um restaurante antigo e honesto, como o Le Coin, ela contrapôs o Celeiro, talvez mais por curiosidade que cavalheirismo preferi a segunda opção.

O restaurante fica no final do Leblon, pouco depois da excelente livraria Argumento. Uma casa simpática, jovial, com varanda, mas preferimos o ar condicionado do interior.

Não havia cardápio, genial invenção de Mathurin Roze de Chantoiseau, ainda no século XVIII. A simpática garçonete esclareceu que poderíamos nos servir com comida cobrada por peso ou escolher pratos à la carte, enunciados oralmente.

A querida professora preferiu se servir e ficou muito satisfeita com seu prato onde pontificavam frango, melão, molho de açafrão e outras delícias. Escolhi picadinho com cuscus.

A garçonete perguntou se seria porção inteira ou meia, a Sra. A. riu pois já conhecia meu apetite, e optei, por óbvio, pela porção completa.

Bebidas, cerveja Bohemia e água mineral, já chegaram à mesa abertas: seria água mineral ou torneiral, jamais saberemos ao certo... Minha cerveja estava boa, acredito que fosse autêntica.

Quando finalmente chegou meu prato, a Sra. A. não pôde deixar de soltar uma gargalhada, face ao meu olhar incrédulo e desolado: a tal porção inteira resumia-se a um pequeno amontoado de cuscus amarelo, com um dedo de altura no centro do prato. Sobre o monte, uma concha mal-cheia do picadinho escuro, cujo molho escorria elegantemente em três direções, formando uma espécie de estrela da Mercedes-Benz, ao tocar as beiradas do prato.

Infelizmente o paladar deixou a desejar tanto quanto a quantidade. Não deixou gosto nem saudade.

Depois de um café e de uma sobremesa, excessivamente pesada, paguei a conta. Para não variar, a caixa "esqueceu-se" da nota fiscal, e quando a cobrei, atrapalhou-se toda, pois o sistema de caixa dois não a permitia imprimir a última venda: acabei com uma nota fiscal de outro cliente, pois nela consta "delícia de maracujá", que ninguém consumiu.

É assim. Enquanto nos preocupamos com os pivetes, sem a maior cerimônia um lugar, ao que parece conceituado, sonega deslavadamente, esconde tabelas de preços, não mostra a conta.

Não pretendo voltar.

domingo, 6 de maio de 2007

Não deu para o buraco dum dente

Paulo Werneck

Sábado lembrei-me de Marcelo Alemão e de sua crítica à comida em que o sabor fica em segundo plano, na coluna Refogado (Carta Capital, 02/05/07). Concordo com ele.

Após uma manhã inteira de reunião de trabalho, saí para almoçar com uma colega e amiga, Sra. A. Sugeri um restaurante antigo e honesto, como o Le Coin, ela contrapôs o Celeiro, talvez mais por curiosidade que cavalheirismo preferi a segunda opção.

O restaurante fica no final do Leblon, pouco depois da excelente livraria Argumento. Uma casa simpática, jovial, com varanda, mas preferimos o ar condicionado do interior.

Não havia cardápio, genial invenção de Mathurin Roze de Chantoiseau, ainda no século XVIII. A simpática garçonete esclareceu que poderíamos nos servir com comida cobrada por peso ou escolher pratos à la carte, enunciados oralmente.

A querida professora preferiu se servir e ficou muito satisfeita com seu prato onde pontificavam frango, melão, molho de açafrão e outras delícias. Escolhi picadinho com cuscus.

A garçonete perguntou se seria porção inteira ou meia, a Sra. A. riu pois já conhecia meu apetite, e optei, por óbvio, pela porção completa.

Bebidas, cerveja Bohemia e água mineral, já chegaram à mesa abertas: seria água mineral ou torneiral, jamais saberemos ao certo... Minha cerveja estava boa, acredito que fosse autêntica.

Quando finalmente chegou meu prato, a Sra. A. não pôde deixar de soltar uma gargalhada, face ao meu olhar incrédulo e desolado: a tal porção inteira resumia-se a um pequeno amontoado de cuscus amarelo, com um dedo de altura no centro do prato. Sobre o monte, uma concha mal-cheia do picadinho escuro, cujo molho escorria elegantemente em três direções, formando uma espécie de estrela da Mercedes-Benz, ao tocar as beiradas do prato.

Infelizmente o paladar deixou a desejar tanto quanto a quantidade. Não deixou gosto nem saudade.

Depois de um café e de uma sobremesa, excessivamente pesada, paguei a conta. Para não variar, a caixa "esqueceu-se" da nota fiscal, e quando a cobrei, atrapalhou-se toda, pois o sistema de caixa dois não a permitia imprimir a última venda: acabei com uma nota fiscal de outro cliente, pois nela consta "delícia de maracujá", que ninguém consumiu.

É assim. Enquanto nos preocupamos com os pivetes, sem a maior cerimônia um lugar, ao que parece conceituado, sonega deslavadamente, esconde tabelas de preços, não mostra a conta.

Não pretendo voltar.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Insegurança e Inação

Paulo Werneck

Fala-se muito da insegurança em que vivemos, balas perdidas (melhor o fossem, o problema é que têm sido achadas pelas vítimas), pede-se maior rigor das leis. Inútil.

O governador deita falação e pede ao presidente o apoio do Exército. Inútil, perigoso e inconstitucional.

Como muita coisa por aqui, fala-se muito, faz-se pouco, ou quase nada. Explico.

Estava eu caminhando tranquilamente pela rua Pinheiro Machado, aquela do Palácio Laranjeiras, e dois motoristas, após terem se envolvido num pequeno acidente de trânsito, que deixou retrovisores escoriados, discutiam acerbamente, o que poderia degenerar em briga.

O que faz este escriba? Saca do cinto a última tecnologia em comunicação, um celular, disca 190, telefone da puliça (quando ela melhorar um pouquinho escreverei certo), e aguarda incontáveis minutos pois "todos os nossos operadores estão ocupados".

A paciência se esvaindo, os dois discutindo, o trânsito - eram seis horas da tarde - totalmente congestionado, eis que um dos veículos estava no meio da rua, só deixando espaço para um carro passar devagar, se espremendo. Quando finalmente sou atendido, conto rapidamente a situação, é prometido o envio de uma patrulha, desligo e volto para a posição de testemunha atenta dos fatos.

Ao leitor que ainda está acompanhando o relato que não termina, justifico: tratava-se de um rapaz sarado e uma dama mignom, donde a atenção redobrada.

Discutem, discutem, acabam se entendendo, ou não, o certo é que assumem os volantes dos respectivos veículos e seguem viagem.

Nem sombra da patrulhinha.

Volto a ligar para o 190, após outros "aguarde por favor" informo a desnecessidade do apoio policial, fim da história.

Pergunto ao Governador, ao Secretário da Segurança Pública, aos editores dos jornais em campanha pela redução da maioridade penal para 16 anos, futuramente para seis meses:

Não seria melhor começar por contratar operadores para o 190, de modo que o cidadão em apuros fosse prontamente atendido?

Não seria melhor retirar os veículos policiais de cima das calçadas, onde só estorvam os pedestres, e deixá-los de prontidão?

Se precisarem de uma consultoria, conversem com as cooperativas de táxis: elas atendem ao telefone e os táxis, mesmo sem sirene, chegam muito mais rápido que qualquer carro de polícia.

PS: Em São Paulo, bancária minha amiga, no início do expediente viu entrarem ladrões na agência que trabalhava, mas a polícia só chegou para o almoço...