domingo, 7 de agosto de 2011

Viajar de Trem

Paulo Werneck

Trem de passageiros da RFFSA estacionado em Cruzeiro
Fonte: http://cfvv.blogspot.com

A questão do trem bala está posta na mesa, mesmo pouco discutida, mas enquanto a sociedade se omite, o projeto avança, um belo dia pode ser implementado e então só restará sorrir ou chorar, conforme o gosto do freguês.

Neste momento estou contra, mas gente que respeito muito, como Miguel do Rosário, está a favor: veja Discutindo o trem-bala  no seu blog Óleo do Diabo.

Meu ponto, meio prosaico, é simples: saudade do trem noturno que ligava Rio e São Paulo (veja depoimentos em Do Fundo do Baú - Trem Noturno Rio-São Paulo).

A viagem era ótima, mas não se sabia o horário de chegada, podia ser cedo ou tarde, dependia de uma série de fatores, eis que a má conservação da linha, a sua não duplicação, o compartilhamento com trens de carga, etc, tudo influía.

Além disso as passagens, pelo menos nos fins de semana, tinham que ser compradas com antecência e exclusivamente na gare, enquanto as outras vias, aérea e rodoviária, as vendiam por diversos meios.

O trem era meio caído, mal conservado, mas mesmo assim muito romântico e confortável. Quando ainda haviam poltronas, eram imensas, nada a ver com os assentos dos ônibus, mesmo os ditos leito, menos ainda com as latas de sardinha voadoras, apelidadas de aviões.

As viagens foram encerradas e depois voltaram sob administração privada, que resolveu as vender num "pacote de sonho", jantar incluso: stroganoff! Ridículo. Noção completamente bizarra e desvairada do que venha a ser elegância. Não admira o fracasso da empreitada.


Roteiro do trem noturno, do verso da passagem
Fonte: fotolog.terra.com.br/outromundo:815%29

Basta ser feito o básico: manutenção correta da linha e das composições, o que permitiria aos trens trafegarem na velocidade máxima e garantiria conforto aos passageiros.

A distancia total, conforme vemos no mapa, é de apenas 474 km, o que exige menos de 120 km/h de velocidade para ser percorrida em quatro horas, e menos de 100 km/h para ser atingida em cinco, o que não deve ser difícil, sem engarrafamentos, sem sinal, sem paradas para lanche.

A certeza da chegada no horário, sem depender de teto (preocupação de quem vôa), a localização central das estações, eliminando engarrafamentos, e a duração da viagem adequada, podendo-se almoçar, lanchar, trabalhar, dormir, atrairia a preferência dos passageiros, sem o investimento requerido pelo trem bala.

Esses recursos poderiam ser aproveitados na expansão da rede ferroviária de passageiros, de modo a ligar pelo menos todas as capitais.

Em havendo escolha, trem bala em duas horas ou trem "popular" em cinco, preferirei o menos rápido, para apreciar a viagem e descansar. Talvez esteja ficando velho...