sexta-feira, 25 de março de 2011

Ler Comer Ouvir

Paulo Werneck

Martin (bandoneón) & Josué (piano)

Meu programa de sábado costuma ser, quando posso, assistir um show de música - tango, jazz, choro - na Livraria Arlequim, entre livros, após degustar algo, certamente bebendo uma cervejinha ou um vinho.

O tango, meu preferido, costuma rolar no primeiro sábado de cada mes, algumas músicas comparecendo quase sempre, outras variando o repertório. Adiós Nonino, El dia que me quieras, Libertango são figuras marcadas, mas Cambalache, sempre atual, também já nos recordou os desatinos da moderna sociedade.

A livraria faz jus ao dístíco grafado em letras garrafais na parede sobre o bar: LER COMER OUVIR LER COMER...

Não só da venda de livros,CDs e DVDs, de um bar com serviço às vezes atrapalhado, mas sempre atencioso, nem de um show íntimo e agradável, que a livraria, já extensão do meu lar, é feita. Nela há sentimento, há respeito.

Na última vez que lá estive, em companhia de S., adentrou o recinto uma menina desgrenhada, menos de dez anos, vendendo chicletes. Não se comportou bem, nem o saberia fazer, não era da alta, e mesmo os abonados podem deixar muito a desejar. Não foi retirada aos safanões por um segurança brutamontes. Longe disso. Para cuidar do caso materializou-se um funcionário, dos mais jovens, que procurou contornar o problema, tentando evitar que a menina se comportasse de modo realmente prejudicial, mas tolerando, com infinita paciência, as pequenas, digamos, disfuncionalidades do comportamento dela.

O problema foi enfim resolvido quando alguém adquiriu todo o estoque de chicletes - seis - com o que a menina, sem ter o que fazer, apesar de ter sido convidada a ouvir o show, retirou-se de moto próprio, passando antes pelo caixa, onde trocou moedas e notas pequenas por outras de maior valor.

Ainda há civilidade neste planeta.

Eu gostava da Arlequim, agora a respeito muito mais.

domingo, 13 de março de 2011

Lope

Paulo Werneck
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Lope escrevendo, foto de Teresa Isasi
Fonte: saraivaconteudo.com.br

Sou um cinéfilo talvez muito medíocre enquanto cinéfilo. Amo, gosto, detesto os filmes, mas quase nunca me importo em saber quem os dirigiu ou interpretou.

Entretanto vejo a história, me alegro, enterneço, irrito, às vezes aprendo algo. Nunca como pipoca, odeio barulhos e interrupções. Para mim deveria haver só o filme, como uma realidade totalizadora, o mundo virtual tornando-se real e o mundo real, o da platéia, praticamente desaparecendo durante a exibição do filme.

Entretanto, graças à gentileza do Instituto Cervantes e do diretor Andrucha Waddington, assisti a palestra do mesmo sobre o filme Lope, na ocasião ainda não lançado no Brasil, com exibição do making-off.

Palestra emocionante, o diretor explicando algo do processo e tirando, com a maior paciência, as dúvidas da platéia. Relatou as dificuldades de locação (locais onde encenar), o que os obrigou a ir até o Marrocos, fornecedor também, a preços mais em conta, dos adereços de época - pratos, jarras, etc.

Outro ponto interessante é que a trilha sonora foi gravada ao vivo por uma orquestra: com o filme já montado, a orquestra tocou a trilha sonora inteira já sincronizada com o filme. Ou pelo menos foi isso que entendi da palestra do Waddington.

Infelizmente perdi a estréia, mas na primeira ocasião que tive assisti ao filme, que em nada deixou a desejar. Muitíssimo bom. Chega a ser engraçada a avaliação média - 6,3 - dos "críticos" do sítio "The Internet Movie Database". Parece que essa opinião não foi compatilhada pelo povo espanhol, que deu ao filme a terceira maior bilheteria de 2010...

O filme retrata um trecho da vida do poeta Lope de Vega (1562-1635) no início de sua vida adulta, desde o retorno da batalha da Ilha Terceira (havia se alistado na marinha) até seu desterro em 1588, mostrando desde cenas amorosas até de capa e espada. Lope era realmente uma figura, digamos, difícil para os padrões da época e ainda o seria hoje...

Depois, após pequena pesquisa, fiquei sabendo que Andrucha já havia dirigido o sutil e primoroso "Eu, Tu, Eles", um dos melhores filmes que já assisti.