sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Viralatas preguiçoso

Paulo Werneck
Morris: Rantanplan

Não sei qual é o cão mais desmiolado do mundo dos quadrinhos, minhas preferências alternando-se entre Rantanplan, do Lucky Luke, e Odie, companheiro de aventuras do Garfield.

Não é de cães, reais ou fictícios, que pretendo falar, e sim da nossa dobradinha nacional: o complexo de viralatas associado à falta de qualquer curiosidade para criticar minimamente a expressão material desse complexo.

Recentemente um conterrâneo postou um lacônico comentário (no "Conversa Afiada", blogue do Paulo Henrique Amorim), que dizia simplesmente "Viva o Brasil, último país a abolir a escravatura!".

Infelizmente não foi o primeiro nem será o último a dizer tal absurdo.

Se pesquisarmos na Wikipedia obteremos as seguintes datas posteriores à da nossa Lei Áurea: Coréia 1894; Madagascar 1896; Zanzibar 1897; China 1910; Tailândia 1912; Nepal 1921; Afeganistão 1923; Iraque 1924; Irã 1928; Serra Leoa 1928; Nigéria 1936; Etiópia 1942; Alemanha Nazista e Japão (nos campos de trabalhos forçados) 1945; Qatar 1952; Tibet 1959; Arábia Saudita 1962; Iêmen 1962; Emirados Árabes Unidos 1963; Omã 1970; Mauritânia 1981.

Podemos observar, por exemplo, que no mítico Tibet havia escravidão sob o governo do Dalai Lama, extinta pelos chineses que o invadiram.

Podemos notar que os civilizados e europeus alemães, bem como os japoneses, com suas tradições zen e códigos samurai, não se vexaram de escravizar pessoas durante a II Guerra Mundial.

Alguém poderá alegar que a Wikipedia não é confiável, mas Alberto da Costa e Silva, autor de "A enxada e a lança", entre tantos outros livros, confirmou algumas dessas datas no prefácio que escreveu para "Formação da Diplomacia Econômica no Brasil", de Paulo Roberto de Almeida.

O fato de termos demorado tanto a acabar com esse regime indigno, que prejudicava não só os cativos, como também nosso desenvolvimento econômico, não justifica a repetição acrítica de inverdades.