sexta-feira, 18 de julho de 2008

Chame o Ladrão...

Paulo Werneck


A cada nova notícia sobre as ações da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, me lembro da música do Chico em tempos de ditadura militar. Foi-se a ditadura, mas continuamos não tendo paz nem tranqüilidade.

Governos entram e saem e pouco - ou nada - muda. A polícia mata a torto e a direito - sempre se defendendo, é claro - não se sabe ao certo de quem.

Os veículos possuem computador de bordo, GPS, etc, mas essa tecnologia de nada nos adianta. Nunca podem chamar um reforço, fazer uma barreira, enfim, agir com um pouco de técnica e efetividade. Logo temos um tiroteio e algumas vítimas, provavelmente pessoas inocentes que tiveram o azar de ficar na linha de tiro, quando não foram os próprios alvos.

O governador - saiu no jornal - está entregando cem novas viaturas (o nome que eles dão aos automóveis), para ficarem paradas sobre as calçadas atrapalhando o movimento dos pedestres, que é para isso que elas são usadas na maioria das vezes.

Se estão se movimentando, costumam apresentar lâmpadas queimadas e pneus carecas. Avançar sinal sem a sirene ligada, dirigir falando no celular? Problema algum, pois o código de trânsito parece não se aplicar às viaturas policiais.

Os policiais de trânsito também não sabem organizá-lo. Apitam mais que carnavalescos, mas deixam que os veículos fechem os cruzamentos, estacionem nas esquinas, transitem à noite com lâmpadinhas azuis de árvore de natal fazendo às vezes de farol.

Nem podemos ficar com raiva dos policiais, pois eles não recebem salário, apenas uma pequena ajuda de custo.

Até quando conviveremos com essa situação? A quantos enterros ainda teremos que comparecer?

terça-feira, 1 de julho de 2008

Descriminalização do Aborto

Paulo Werneck

Portinari: Menina chorando
Fonte: www.portinari.org.br/IMGS/jpgobras/OAa_3337.JPG

O Congresso Nacional está discutindo o Projeto de Lei nº 1.135/91, que regulamenta a descriminalização do aborto no país. Antes mesmo das audiências públicas marcadas para os dias 2 e 3 de julho de 2008, o relator da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, sr. Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entregou seu parecer - ignorando portanto os argumentos da sociedade que pretensamente representa, e alegando a inconstitucionalidade do projeto.

Não pretendo fazer uma apologia do aborto. Em si, é errado. Uma gestante nunca deveria ter de considerar essa dolorosa opção.

Só que existem situações ainda mais erradas: falta de instrução, falta de emprego, falta de moradia, enfim, falta dos elementos básicos para uma vida decente e uma maternidade consciente.

A experiência diz que a descriminalização do aborto é uma medida de saúde pública. Isso pode ser visto, por exemplo, no livro Freakonomics, de Steven Levitt, que mostra que a descriminalização do aborto nos Estados Unidos, 16 anos depois, reduziu a violência urbana - e a perda de vidas - pois os não concebidos não entraram na senda do crime, futuro reservado à maioria deles.

Note-se que a aprovação da lei não obrigará as católicas a abortarem, nem impedirá que todas as pessoas de boa vontade ajam para que todas as gestantes tenham um mínimo de condições de viver uma vida digna, de modo a que não precisem sequer considerar fazer um aborto.

Isso sim, seria defender a vida. Com dignidade, não com leis repressivas.

Em www.petitiononline.com/CCJ1135/petition.html, está disponível uma petição rebatendo os argumentos do relator, aberta à assinatura dos cidadãos e cidadãs brasileiros.