quarta-feira, 9 de maio de 2007

Aborto e Hipocrisia

Paulo Werneck

Sábado lembrei-me de Marcelo Alemão e de sua crítica à comida em que o sabor fica em segundo plano, na coluna Refogado (Carta Capital, 02/05/07). Concordo com ele.

Após uma manhã inteira de reunião de trabalho, saí para almoçar com uma colega e amiga, Sra. A. Sugeri um restaurante antigo e honesto, como o Le Coin, ela contrapôs o Celeiro, talvez mais por curiosidade que cavalheirismo preferi a segunda opção.

O restaurante fica no final do Leblon, pouco depois da excelente livraria Argumento. Uma casa simpática, jovial, com varanda, mas preferimos o ar condicionado do interior.

Não havia cardápio, genial invenção de Mathurin Roze de Chantoiseau, ainda no século XVIII. A simpática garçonete esclareceu que poderíamos nos servir com comida cobrada por peso ou escolher pratos à la carte, enunciados oralmente.

A querida professora preferiu se servir e ficou muito satisfeita com seu prato onde pontificavam frango, melão, molho de açafrão e outras delícias. Escolhi picadinho com cuscus.

A garçonete perguntou se seria porção inteira ou meia, a Sra. A. riu pois já conhecia meu apetite, e optei, por óbvio, pela porção completa.

Bebidas, cerveja Bohemia e água mineral, já chegaram à mesa abertas: seria água mineral ou torneiral, jamais saberemos ao certo... Minha cerveja estava boa, acredito que fosse autêntica.

Quando finalmente chegou meu prato, a Sra. A. não pôde deixar de soltar uma gargalhada, face ao meu olhar incrédulo e desolado: a tal porção inteira resumia-se a um pequeno amontoado de cuscus amarelo, com um dedo de altura no centro do prato. Sobre o monte, uma concha mal-cheia do picadinho escuro, cujo molho escorria elegantemente em três direções, formando uma espécie de estrela da Mercedes-Benz, ao tocar as beiradas do prato.

Infelizmente o paladar deixou a desejar tanto quanto a quantidade. Não deixou gosto nem saudade.

Depois de um café e de uma sobremesa, excessivamente pesada, paguei a conta. Para não variar, a caixa "esqueceu-se" da nota fiscal, e quando a cobrei, atrapalhou-se toda, pois o sistema de caixa dois não a permitia imprimir a última venda: acabei com uma nota fiscal de outro cliente, pois nela consta "delícia de maracujá", que ninguém consumiu.

É assim. Enquanto nos preocupamos com os pivetes, sem a maior cerimônia um lugar, ao que parece conceituado, sonega deslavadamente, esconde tabelas de preços, não mostra a conta.

Não pretendo voltar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Paulo,
O Papa ainda diz estar preocupado com a democracia na América Latina e, naturalmente, com a pobreza e a bolsa família (ver Estadão de hoje).
A prática do aborto clandestina é prática freqüente entre os pobres, uma vez que ricos têm acesso fácil a meios diversos e legais de contraceptivos.
Quando os Papas deixarão de pensar que os pobres são legados das instituições religiosas e passa a odiar , combater a pobreza? Por que não oferecer outra qualidade de ajuda que não seja preocupação, discurso polêmico, esmola ou a tutela da passagem para o paraíso?
Leia ainda o comentário do Nassif (ou será do Mino?) sobre os costureiros das roupas do Papa.

Anônimo disse...

Um caso típico de papa-gaiada!