quinta-feira, 26 de abril de 2007

Faxina Social

Paulo Werneck

Enquanto a sociedade se manifesta contra os crimes bárbaros que têm vitimado uns e outros, espalhando flores na praia, se reunindo em missas na Candelária, trocando emails, me reservo a ficar quase indiferente à dor de quem perdeu seus entes queridos, ao pavor de quem tem medo de sair à noite.

Meu inimigo não é o jovem perdido, cheirador de cola, o favelado com três-oitão na mão, a serviço do tráfico.

Não. Não é. Chego a sentir pena deles, por terem suas vidas destruídas, pois cheirar cola ou ser um soldado do tráfico não é vida.

Meus inimigos se vestem bem, são juízes, desembargadores, policiais, empresários, deputados, senadores, ministros, presidentes.

Meus inimigos são pessoas com estudo, mas sem educação; bem vestidos, mas indecentes; bem falantes, mas mentirosos e enganadores.

Sinto saudade da guilhotina, do pelotão de fuzilamento, da fogueira, jamais para o bandido tradicional, que mata mas pode levar um tiro, que acaba morrendo jovem.

O paredón faz falta para o juiz corrupto, vendedor de sentenças, sócio da impunidade e do crime.

A guilhotina faz falta para o representante do povo, que age a favor de interesses inconfessáveis, sempre contra o povo que nele depositou seu voto.

A nossa Constituição, sempre tão desprezada pelos poderosos, veda a pema de morte. É bom, pois cerceia minha ira, me obriga a ser civilizado.

Algo precisa ser feito.

Que tal reformar o Código Penal e colocar agravantes, em razão da boa situação social do meliante?

Tem curso superior? Aumente-se a pena em um terço. É juiz, fiscal, delegado? Dobre-se. É deputado, senador, desembargador, ministro? Triplique-se a pena.

A faxina precisa começar pelo andar de cima.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Paulo,
Não gosto dos seus termos faxina, inimigos...Mas, creio serem expressões de uma ira "santa".
Neste caso, gostaria de oferecer-lhe minhas agulhas de tricot.
No entanto, antes que mudem a lei para oferecer tal espécie de conforto, não seria interessante pensar que além do horizonte da indignação haveria algo mais nesse social, que viria não de baixo, nem do alto, mas por dentro das relações sociais do nosso povo? A lei é suficiente para sermos responsáveis e civilizados?
Um abraço,
Simone